Chegou a hora de falar, vamos ser francos
E aí está meu disco. O quinto. Respeitem meus cabelos, brancos. Com locações em Londres, João Pessoa, Recife, Salvador da Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. Como num filme. Um superoito com atores convidados: Chico Buarque, Nina Miranda e Chris Frank, Carlinhos Brown, a Metalúrgica Filipéia de minha pequenina Paraíba. E tem os parceiros: Carlos Rennó, Vanessa Bumagny, Tata Fernandes, Milton de Biasi e Bráulio Tavares de minha imensa Paraíba. E Will Mowat, o produtor.
Quando digo “respeitem meus cabelos, brancos” não falo só de mim nem quero dizer só isso. Debaixo dos cabelos, o homem como metáfora. A raça. A geração. A pessoa e suas idéias. A luta para manter-se de pé e mantê-las, as idéias, flecheiras. É como se alguém dissesse “respeitem minha particularidade”. É o que eu digo, como artista brasileiro nordestino descendente de negros e índios. E brancos. Ou ainda no plural: minhas particularidades mutantes. Fala-se em tolerância. Pois não é disso que se trata. Trata-se de respeito.
Estou feliz, com um sentimento de gratificação plena por este disco e as pessoas nele envolvidas. Sinto-me bem pelo fato da música ter-me trazido do sertão paraibano e me atirado em desamparo por outros sertões. Ela, a música, me amparou. Retira-me do Brasil e a ele sempre me devolve, cada vez mais incestuosamente. Já me levou às cegas para cantar e ver às escâncaras o mundo se refazer e desmundar aqui, ali e alhures: Japão, Turquia, Finlândia, Cabo Verde, Dinamarca, Europa toda, América nortista. E Macapá, Três Lagoas, Pelotas, Mossoró. A minha música eu a quero total, e desde que vim para São Paulo há dezesseis anos sei que é com o mundo que pretendo dividi-la. De todos e sempre minha.
Esse disco é meu. Mas é para você, ouvinte vivente meu contemporâneo. Fui claro?
Chico César, outono dois mil e dois