gente:
lanço agora este “compacto e simples”. é o número zero de um projeto que pretende mexer um pouco num dos muitos modos possíveis de uso de um suporte sub-aproveitado e já quase descartado: o cd. “compacto e simples” nem chega a ser uma invenção: trata-se de um primo tardio dos compactos da era do vinil. um parente curiboca do “single”, incompreendido pela indústria no brasil. um contraparente do “smd” contemporâneo já vitorioso na busca de ambiente favorável para lançamento de novos artistas populares ou de artistas consagrados que vêem seu público como parceiros e não apenas como consumidores. boa sacada essa do “smd”, hein…
“compacto e simples” bebe nessa fonte. parte de uma idéia básica: a de que é possível produzir e tornar acessível um número reduzido de canções a preços condizentes. e neste suporte “old fashion”: o cd. a intenção é mostrar aspectos do trabalho que não cabem nos chamados discos de carreira. canções isoladas, remixes, releituras, quem sabe um clipe ou um dvd-relâmpago com uma ou duas faixas.
preferi começar com “odeio rodeio” e “brega”, canções que dialogam diretamente com o imaginário da mais popular música brasileira: a música de parque, de rodoviária, das boates de ponta de rua, dos karaokês, a música onipresente dos programas de auditório, a música que se escuta tanto no quartinho de empregada quanto no home theater em que a família abastada vê seus ídolos. no chalé e na choupana. na casa grande e sob o viaduto. na casa de campo e debaixo da lona preta dos acampamentos à beira das rodovias. ou seja, o “crossover”.
escolhi essas faixas por identificação com este universo. e para interagir com ele. não são canções de beligerância. “brega” tem pra lá de quinze anos. “odeio rodeio” tem uns dois. vinha tocando esta música brasil a fora e as pessoas perguntavam sempre pelo disco. “compacto e simples” responde a essa demanda e propõe uma reflexão leve sobre a enorme pressão da mídia pela homogeneização do gosto e do consumo de bens simbólicos.
“eu sou o fruto brega da semente brega que você plantou”, diz uma. “eu sei que é preconceito mas ninguém é perfeito, me deixem desabafar”, diz a outra. ou seja: me incluo nisso. estou falando de nós. com humor, sem rancor. mas também sem auto-indulgência.
a monocultura estética em torno de temas ligados ao agronegócio copiado do modelo americano tem subestimado a pujança criativa do interior do país. chamamé, polca, toada, guarânia, rasqueado, rastapé, cateretê, catira (e mesmo o rock, o rap e o eletrônico das cidades médias) dão lugar a monotemáticas canções de dor-de-cotovelo com pretensa roupagem pop, empobrecendo o repertório de artistas inegavelmente criativos. artistas que, a meu modo, reverencio e procuro imitar nestas duas canções.
chico césar
outono2005
ps: rita lee está comigo na faixa 1. que amorosa! com os bichos e conosco, humanos…
outro ps: não procurem chifre em cabeça de cavalo pois o unicórnio alado está aí pra nos fazer sonhar.
FICHA TÉCNICA DE BREGA E ODEIO RODEIO
Uma produção Audiosfera por Christiaan Oyens para Chita Discos
Produção Executiva: Audiosfera (Lucio F. Costa) e Chita Discos
Gravado nos estúdios:
Spelunca – por Christiaan Oyens
Fibra – por João Jacques. Assistente: Daniel Zannata
Mixado por Damien Falcounnier no Estúdio Fibra
Mastrizado no Classic Mater
Brega:
Christiaan Oyens: guitarras, bateria, teclados, baixo e arranjo.
Odeio Rodeio:
Christiaan Oyens: violão, guitarra, bateria, lap steel e arranjo.
Dunga: baixo
Sacha Amback: teclados, programação e arranjo.
Rita Lee: vocal (gravado no estúdio Ritz, por Cotô Guarino)
Rita Lee artista gentilmente cedida pela EMI