“…y ele disse faça-se a festa. obedientes, talvez por excesso de zelo, fizemos várias. expulsos da terra natal, onde quase todos os frutos eram proibidos y manga com leite ofendia, ocupamos a terra alheia. aí mesmo foi que dançamos. aquilo mais parecia terra de ninguém de tantas gentes e danças diferentes. gente migrada sabe deus de onde. galega dando umbigada y japonês se garantindo num bate-coxa que só vendo pra crer. expulsos do paraíso (que não é lugar de camelô), fomos nos espalhando de jabaquara a tucuruvi, de barra funda a itaquera. houve imigrantes que foram parar no sumaré y vieram comandar arrasta-pé y bater de bumbo pela vila madalena. sem falar naqueles aparecidos na margem esquerda do sena, em paris, nas ramblas de barcelona ou sob os céus em chamas de nova york. ai de ti, copacabana. ai de vós, superquadras, lagoa da joaquina, ópera de arame. brotados do chão, como mata-pasto y berduégua depois da primeira chuva. dos bueiros do metrô, das rasas y desmedidas covas, dos quartinhos de empregada, das entradas de serviço.
de zeladores de prédio acostumados à multidisciplinaridade de pilotar interfone y dar uma mãozinha com a feira da madame, ao mesmo tempo, não foi difícil a evolução para djs y mcs. com os filhos mandando ver nas misturas de hip hop com xaxado y na mixagem dos pretendidos achados parentescos nas matérias primas do rap y do repente. não sei se ele vê com bons olhos (logo ele, que vê tudo) esse negócio de garoto judeu tirando chinfra com boné de maloqueiro y favelado sampleando o ravila naga pra enquadrar na moral anjos y marmanjos da guarda.
mas quem sou eu pra saber? quando fez a luz y soprou vida em suas criaturas, inclusive no homem a sua imagem y semelhança, contemplou sua obra y ficou satisfeito com o que viu, deixou uma brecha para buscarmos nossa própria satisfação. felicidade até. joelho não foi feito só pra genuflexão. bem usado nuns passos de frevo tem seu valor. tudo bem que tem gente querendo endoidar o calendário: se quarenta dia depois de cada carnaval fora de época tiver uma semana santa, com crucificação y tudo, aí a casa cai geral. não tem joelho que agüente y a maioria não passa nem pelo purgatório. só sei que, seja boa ou ruim a safra, para muitos a festança junina também é sagrada (ops!). …haja pois forró y frevo.”
(francisco, sou eu)
O cantor e compositor Chico César mergulha no espírito duas principais festas populares nordestinas (o carnaval e os festejos juninos) para criar um disco alegre em que o foco encontra-se na força dos ritmos que animam essas festas: o frevo e o forró. E ainda no diálogo que esses ritmos têm naturalmente com bits universais. Por exemplo: o xote com o reggae, o frevo e o arrasta-pé com o ska. No que se refere especificamente ao frevo, uma novidade: a junção da linguagem das orquestras de metais de Pernambuco com a guitarra baiana dos trios elétricos da Salvador dos anos 70, em que a folia estava sob o comando de Dodô e Osmar. Para buscar uma sonoridade universal chamou o produtor Bid (o mesmo do segundo disco de Chico Science e Nação Zumbi), com quem divide a produção do álbum. A mixagem é de Mário Caldato Jr. O tempero nordestino fica por conta da presença de músicos da Paraíba, da Bahia e de Pernambuco. Entre eles, o grande Armandinho e seu pau elétrico (homenageado no disco) e Spock e sua orquestra (representando a renovação do gênero pernambucano).Entre os convidados a voz do frevo Claudionor Germano, um verdadeiro mito que segue cantando com voz firme como nos velhos tempos da gravadora Rozemblit. Dominguinhos empresta sua voz e sanfona na música “Deus me Proteja” e Seu Jorge é o convidado em “Dentro”. O disco é composto basicamente de inéditas do próprio Chico César. Com apenas uma regravação: a “Marcha da Cueca”, do já falecido e também paraibano Livardo Alves (“Eu mato, eu mato quem roubou minha cueca pra fazer pano de prato…). Enfim, um disco leve para tocar nas ruas e nas pistas, com forte apelo regional e internacional. Para levantar a poeira e o astral, inspirado no saudável estado de espírito com o qual o povo nordestino encara e faz suas festas.
Produzido por bid e chico césar para chita discos
mixado por mario caldato jr. no estúdio ar (rio de janeiro/rj) com assistência de bruno stheling e igor ferreira
masterizado por ricardo garcia (magic master) com assistência de Luciano Tarta produção executiva: maristela garcia (chita discos) e airton valadão jr (agência produtora)
gravado por evaldo luna e bid no estúdio etéreo das recordações de chita com assistência de william “zulu” gil.
exceto: “pelado” – bateria, baixo e guitarras (por ivan huol, no estúdio huol criações, salvador/ba) e metais (por albérico jr, no estúdio carranca, recife/pe). “marcha da cueca” – voz de claudionor germano (por albérico jr, no estúdio carranca, recife/pe) e baixo (por lautaro wlasenkov, no zen estúdio, brasília/df)
edições e pós-produção: bid (soulcity:studios)
ilustrações e projeto gráfico: Adams Carvalho
O que se falou
“Depois de passar os últimos três anos passeando por um seara mais intimista, Chico procurou por outro tipo de comunicação musical. “Queria algo mais ligado ao corpo do que ao intelecto”, resume. Procurou por BiD, que já produziu Chico Science & Nação Zumbi (Afrociberdelia) e mundolivresa, que, por sua vez, indicou Mario Caldato Jr. para a mixagem. O resultado são 14 divertidas canções para se ouvir em qualquer dia da semana, em qualquer época do ano, mas obrigatoriamente quando se tiver festa.” Lívia Deodato, O Estado de Sao Paulo.
“Chico César retoma o apelo popular de modo feliz com o álbum Francisco forró y frevo, produzido por ele e pelo paulista BiD (Chico Science & Nação Zumbi, Marcelo D2, Otto), responsável pelos efeitos e elementos eletrônicos, e mixado pelo brasileiro-americano Mario Caldato Jr. (Marisa Monte, Beastie Boys, Beck, Moby, Blur). Como o título sugere, o compositor cai de boca na vibração das duas principais festas do Nordeste, o Carnaval e o São João. Para isso, recorre aos ritmos do frevo (que vale tanto para as ruas de Recife e Olinda quanto para a guitarra baiana dos trios-elétricos de Salvador nos anos 1970) e do forró e variáveis (além dos seus diálogos com o reggae e o ska).” Hagamenon Brito, Correio da Bahia.
“Nas lojas esta semana, o discos impressiona pela ótima qualidade da safra de inéditas de Chico, que enfatiza a afinidade rítmica do reggae com o xote em faixas como ‘Comer na Mão’ e ‘Ociosa’. O álbum tem tom festivo. Já na faixa de abertura, o frevo ‘Girassol’, as guitarras de Fernando Catatau sinalizam a intenção do artista — que produziu o CD ao lado de BiD — de buscar outras sonoridades para o gênero.” Mauro Ferreira, O Dia.